domingo, 24 de março de 2013

MATÉRIAS-PRIMAS E SUBSTÂNCIAS ATIVAS EMPREGADAS EM COSMETOLOGIA.

1 VEÍCULOS, MATÉRIAS-PRIMAS E SUBSTÂNCIAS ATIVAS EMPREGADAS EM COSMETOLOGIA.
VEÍCULOS A escolha de um veículo para preparação de produtos cosméticos deve ser feita em prol da estabilidade da formulação e das características da pele ou local de aplicação. Veículos empregados: emulsões (cremes e loções), gel e gel-creme com ou sem ativos. Emulsões: são dispersões onde a fase dispersa é composta por gotículas de um líquido distribuídas em outro no qual são imiscíveis. A fase dispersa também pode ser denominada de fase interna e a fase dispersante de fase externa. Tipos: O/A: óleo em água (neste caso a fase dispersa é o óleo e a fase dispersante a água) A/O: água em óleo (a fase interna é a água, enquanto que a externa o óleo). As emulsões mais adequadas para uso tópico são do tipo O/A, pois além de serem menos oleosas são mais aceitáveis esteticamente (mais agradáveis). Em paises de clima mais frio o emprego de emulsões A/O é mais apropriado para evitar o ressecamento demasiado da pele.
Figura 5: Representação de emulsões tipo A/O (A) e O/A (B)
As emulsões são sistemas heterogêneos formados pela combinação de líquidos imiscíveis graças à presença de tensoativos ou emulsificantes que tornam miscíveis ambos os líquidos. Dependendo da sua consistência (viscosidade), as emulsões são popularmente conhecidas como loções (mais fluidas) e cremes (mais consistentes). Apesar do (s) tensoativo (s) proporcionar a mistura das 2 fases – aquosa e oleosa pela redução da tensão interfacial entre ambos os líquidos, as emulsões não deixam de ser sistemas heterogêneos e termodinamicamente instáveis que podem se desestabilizar através da separação das fases. Enquanto as emulsões apresentarem aspecto homogêneo pode se considerar que estão dentro do prazo de validade. Fatores que podem acelerar a desestabilização de emulsões: – hidrólise de tensoativos em valores extremos de pH;
– destruição microbiana de seus componentes;
– processos fotoquímicos;
– eletrólitos;
– temperatura (baixa ou elevada);
– perda de água devido ao calor, má armazenagem ou uso de embalagem não apropriada. Este fato pode levar à inversão das fases da emulsão. A estabilidade física de emulsões pode ser avaliada através do teste de centrífuga. Neste ensaio são tomados cerca de 5 gramas da amostra e submetida à centrifugação durante pelo menos 30 minutos a 3.0 rpm (rotações por minuto). Após este período não deve ser observada a separação das fases da emulsão. Conceitos relativos à separação de fases: – Floculação: início da aproximação das gotículas da fase interna (etapa pré-coalescência ou formação de creme). Nesta etapa é possível reverter a instabilização que deve acontecer na emulsão. – Coalescência: junção das gotículas da fase interna até ocasionar a sua “quebra” (formam-se duas camadas líquidas diferentes). – Sedimentação: separação das fases interna e externa devido à diferença na densidade dos líquidos.
Figura 7: Esquema relativo à desestabilização de emulsões
Meios empregados para melhorar a estabilidade das emulsões: – aumento da viscosidade;
– redução do tamanho das gotículas da fase interna. Tensoativos: Os tensoativos são compostos formados por uma parte hidrofílica (tem afinidade pela água) e outra parte lipofílica (apresenta afinidade por óleo). Também são denominados de substâncias anfifílicas.
ÁguaÓleo

Representação:
Círculo: parte do tensoativo que tem afinidade pela água Linha: parte do tensoativo que tem afinidade com o óleo
De acordo com o tensoativo, as emulsões são classificadas em: – iônicas (aniônica ou catiônica): formada pela adição de tensoativo aniônico ou catiônico
– não iônicas: formada por tensoativo não iônico Exemplos: – tensoativo aniônico: estearato de sódio – quando em contato com a água a parte polar (círculo) torna-se carregada negativamente. – tensoativo catiônico: brometo de cetil trimetil amônio – a sua parte polar apresenta-se carregada positivamente em solução aquosa. – não iônico: estearato de glicerol – em solução aquosa não se hidrolisa formando íons. Outros componentes presentes em emulsões: – antioxidantes;
– conservantes;
– fragrância;
– substância (s) ativa (s);
emolientes para melhorar a espalhabilidade e o sensorial

– agente espessante. Fase aquosa: água destilada ou deionizada, conservante (s) e umectantes (glicerina, propilenoglicol) impedem o ressecamento da emulsão. Fase oleosa: agentes de consistência (álcoois graxos e ácidos graxos), substâncias oleosas, óleos e Ceras autoemulsificantes As ceras autoemulsificantes são compostas por dois ingredientes: tensoativo (menor proporção) e material graxo (maior parte); geralmente 1:10 partes, respectivamente. Ambos são substâncias anfifílicas, porém o material graxo (emulsificante auxiliar, secundário ou co-emulsificante) é fracamente hidrofílico, sendo incapaz de formar emulsões sem auxílio do emulsificante principal ou primário. Exemplos: Lanette®N: combinação de álcool ceto-estearílico c/ ceto-estearil sulfato de sódio Lanette®WB: combinação de álcool ceto-estearílico c/ LSS (lauril sulfato de sódio)
Cosmowax®: mistura de álcool ceto-estearílico c/ álcool ceto-estearílico etoxilado (presença do óxido de etileno para aumentar a solubilidade em água)
Classificação:
– iônica: Lanette®N e Lanette®WB
– não iônica: Cosmowax® Vantagem: facilidade p/ obtenção de cremes e loções sendo indicada p/ preparações de pequena escala.
Gel: sistema semi-sólido c/ característica coloidal, aspecto gelatinoso, formado por dispersão de partículas pequenas num veículo líquido que não sedimentam, apresentando-se como uma suspensão estável.
Substâncias que formam o gel: polímeros que quando dispersos em meio aquoso doam viscosidade à preparação. – substâncias naturais: goma adraganta, pectina.
aumentando a eficiência como espessante (a estrutura polimérica torna-se estendida)

– substâncias semi-sintéticas ou sintéticas: carbômeros (934, 940, 960 e ultrez), hidroxietilcelulose (HEC), carboximetilcelulose (CMC). Cabômeros: polímeros do ácido acrílico de elevado peso molecular (PM) e c/ ligações cruzadas. O seu poder espessante, após a dispersão em água, eleva-se com a adição de base orgânica (TEA) ou inorgânica (NaOH), pois os grupos ácidos da cadeia polimérica são convertidos em sua forma de sal HEC ou Natrosol®: quando dispersa em água, a HEC forma gel denominado de não iônico. Este tipo de gel apresenta boa compatibilidade com a maior parte das substâncias ativas, inclusive com os ácidos
(glicólico, fítico) que devido ao seu pH é incompatível com o gel de carbômero (Carbopol®) ou gel iônico (resultado da sua neutralização até pH 6,5 – 7,5).
Aos géis devem ser acrescentados umectantes para evitar o seu ressecamento, além de conservantes
água)

compatíveis e eficazes por causa da alta suscetibilidade à contaminação microbiana (elevada porcentagem de Alguns géis são incompatíveis com eletrólitos (por exemplo, NaCl).
Gel-creme: emulsões contendo elevada porcentagem de fase aquosa e reduzido conteúdo oleoso, estabilizadas por colóide hidrofílico (agente de consistência). Quando contêm óleos não comedogênicos (esqualeno, macadâmia e silicone) são chamados de creme ou loção “oil free”, dependendo de sua consistência.
micrômetros a nanômetros

Lipossomas: são vesículas globulares microscópicas formadas por moléculas anfifílicas (geralmente fosfolipídios) que se organizam em forma de uma camada dupla ou de várias camadas duplas. Essas vesículas são capazes de veicular substâncias hidrofílicas, anfifílicas ou lipofílicas e apresentam a capacidade de interagir com os lipídios da pele humana, quando aplicados topicamente, liberando as substâncias que transportam. As vesículas multilamelares (c/ várias camadas duplas) tendem a liberar a substância que carregam de modo mais prolongado que as vesículas unilamelares (uma camada dupla). Os lipossomas são formados espontaneamente após a dispersão de fosfolipídios em meio aquoso (por exemplo, fosfatidilcolina – lecitina de ovo ou de soja), dando origem a vesículas de tamanhos variados desde As vesículas de lipossomas devem ser evitadas em formas cosméticas como as emulsões e preparações alcoólicas para não comprometer a sua estabilidade. Nas emulsões os tensoativos presentes podem desordenar os fosfolipídios ocasionando a ruptura dos lipossomas, enquanto que o álcool pode solubilizar as camadas lipídicas dos lipossomas.
Figura 8: Lipossomas uni e multilamelar, arranjo molecular da dupla camada e vesícula lipossomal unilamelar.
14 EXEMPLOS DE MATÉRIAS-PRIMAS E FINALIDADE
Lipídios
Ceramidas: o emprego de ceramidas exógenas em formulações cosméticas tem sido considerado bons produtos hidratantes, porém faz-se necessário estudo para avaliar o seu real benefício. Componentes dos lipídios sebáceos: triglicerídios, ésteres graxos, esqualeno (pode ser encontrado no óleo de fígado de tubarão e azeite), ácidos graxos livres, ésteres de esteróis e colesterol. Ácidos graxos: ácido palmítico, mirístico, esteárico, oléico (todos são encontrados na superfície da pele). O óleo de amêndoas e amendoim (óleos vegetais) contém alguns ácidos graxos acima. Ésteres graxos: a partir dos triglicerídios é possível obter sabões (tensoativos) através do seu aquecimento com uma base. Óleos, gorduras e ceras: líquido, pastoso e sólido, respectivamente em temperatura ambiente. As ceras fundem em temperatura acima de 45 °C (cera de abelha, carnaúba). Esteróis: colesterol (origem animal) e fitoesteróis (origem vegetal) Lanolina: produto da lavagem da lã de carneiros (graxa de lã) que contém 96% de ésteres, 3% de álcoois livres e hidrocarbonetos. Possui propriedades: emoliente, tensoativa e condicionante. Derivados da lanolina: a) álcool de lanolina: mistura de álcoois graxos obtidos pela hidrólise da lanolina. Pode ser usado como agente condicionante dos cabelos, estabilizante de emulsões e agente viscosificante de formulações não aquosas. b) lanolina acetilada: éster acetilado da lanolina, com função emoliente e condicionante. Ambos derivados são hipoalergênicos. c) lanolina etoxilada: produto da reação de álcool de lanolina com óxido de etileno, tornando-se num emulgente O/A ao invés de A/O como são a lanolina e o álcool de lanolina.
Emolientes: substâncias que aplicadas sobre a pele reduz os sintomas da pele seca - óleo de amêndoas doce ou óleo de amêndoas etoxilado;
- óleo mineral;
- álcool oleílico (não gorduroso);
- éster de ácido graxo com poliol;
- acetato de cetila, lactato de cetila, palmitato de cetila, de isopropila;
- manteiga de karité;
- miristato de isopropila: éster formado pela reação do álcool isopropílico c/ ácido mirístico;
- óleo de macadâmia (emoliente não comedogênico);
- esqualeno (não comedogênico);
- óleo de gérmen de trigo, de prímula, de jojoba, de semente de uva, de abacate;
- silicone fluido, ciclometicone;
- estearato de isopropila, de octila, de butila;
- vaselina sólida;
- éster decílico do ácido oléico (oleato de decila);
- propionato de pró-miristila;
- miristato de miristila (sólido em temperatura ambiente);
Umectantes: substâncias que fixam ou retém água sobre a superfície epidérmica; - glicerina;
- propilenoglicol;
- sorbitol;
- dimeticone copoliol;
- acetato de vitamina E (ou α-tocoferol); - sulfato de condroitina e proteína hidrolisada.
Hidratantes: substâncias que podem afetar favoravelmente a textura da pele seca, influenciando o conteúdo de água do estrato córneo. - ceramida I;
- Fatores Naturais de Hidratação (FNH): aminoácidos, uréia, PCA sódico (ácido pirrolidona carboxílico);
- pantenol;
- AHA’s (α-hidroxiácidos); - extrato de Aloe Vera;
- proteína hidrolisada de trigo;
- hialuronato de sódio;
- acetamida MEA (monoetanolamida);
- colágeno natural solúvel; elastina animal hidrolisada; glicosaminoglicanas. Emulsificantes usados em cremes ou loções: - álcool oleílico etoxilado (não iônico);
- base de absorção de lanolina (auxiliar);
- ceras auto-emulsionantes (iônica e não iônica);
- monoestearato de glicerila (secundário);
- álcool ceto-estearílico etoxilado;
- monoestearato de sorbitano (secundário);
- lauril sulfato de sódio (pó);
- triéster do ácido fosfórico e álcool etoxilado;
- álcool cetearílico + ceteareth 20. Agentes de consistência: - álcool ceto-estearílico, álcool cetílico;
- ácido esteárico. Espessantes: - carbômeros;
- hidroxietilcelulose;
- monoestearato de glicerina;
- monoestearato de dietileno glicol. Antioxidantes: - ácido ascórbico, sulfeto e bissulfeto de sódio, ácido hipofosfórico (preparações aquosas);
- α-tocoferol, butil-hidroxianisol (BHA), butil-hidroxitolueno (BHT), palmitato de ascorbila (preparações oleosas). Quelantes: - ácido etileno-diamino-tetracético-dissódico (EDTA dissódico): complexante de íons metálicos. Geralmente potencializa os efeitos dos antioxidantes.

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